Este é o primeiro relatório de
autoavaliação que apresento no sétimo escalão. Leciono há trinta e dois anos e
este aspeto, no momento em que me preparei para esta reflexão, surgiu como
relevante. Trata-se de uma carreira que tem sido construída ao longo de três
décadas sempre em "harmonia" com as alterações emanadas da tutela e
que passaram a ser uma constante e é nesta espiral que temos de encontrar o
equilíbrio.
Iniciarei esta reflexão fazendo um breve ponto de situação sobre a
forma como o processo de construção das aprendizagens dos alunos foi
desenvolvido e implementado. Ao longo de todo o relatório, irei refletir
enquanto docente de português, mas, simultaneamente, como coordenadora do departamento
de português, uma vez que é no exercício dessas duas funções que todo o meu
trabalho é desenvolvido.
Na preparação e organização das atividades letivas, mostrou-se
particularmente relevante o trabalho colaborativo promovido em sede de
departamento. Foram considerados para a reformulação das planificações de todos
os anos os dispositivos legais em vigor bem como as orientações para a
organização do ano quer as emanadas da tutela quer as provenientes da direção.
Tiveram particular relevância as orientações para a
construção dos planos de recuperação das aprendizagens, em resposta ao ensino à
distância motivado pela Covid-19.
Nesse processo, todo ele desenvolvido colaborativamente, propus, enquanto coordenadora, que fôssemos construindo
cenários de aprendizagem organizados em cinco etapas: ponto de partida,
exploração e organização de ideias; aplicação e criação; esclarecimento de
dúvidas, feedback e revisão; partilha e avaliação. Trata-se de uma matriz que,
construída colaborativamente e através, neste caso, de documentos criados numa
pasta partilhada na drive (GoogleDrive) do departamento, permite ir
enriquecendo o repositório digital que está a ser construído em rede, usando as
plataformas TEAMS, Moodle e Google, não só com os recursos usados em sala de
aula, mas também das estratégias desenvolvidas e metodologias adotadas.
A matriz de cada um dos cenários de
aprendizagem contém ainda a lista das aprendizagens essenciais e das áreas de
competência do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PASEO),
sendo assinaladas aquelas que sejam desenvolvidas em cada cenário o que
facilita o processo de monitorização do currículo, para o qual propus também um
documento (grelha em excel) que foi bem aceite pelos restantes elementos do
departamento, uma vez que o seu preenchimento facilitará a identificação das
aprendizagens que não tiverem sido desenvolvidas ou necessitarem de maior
consolidação em cada uma das turmas dos vários anos. Ao longo do ano, tive sempre como referência a construção dos cenários de aprendizagens para o desenvolvimento do trabalho direto com os alunos e o facto de serem criados em
parceria com outros professores, porque começou a ser prática frequente entre
vários docentes do departamento de português, fruto essencialmente do trabalho
desenvolvido nos tempos do Trabalho colaborativo (TC), permitiu a partilha de
recursos e principalmente a discussão de estratégias mais eficazes bem como das
metodologias a adotar face aos resultados que íamos tendo, já que em alguns
casos os encontros eram semanais.
Estou a desenvolver com algum pormenor este
aspeto da organização das atividades letivas porque é cada vez mais relevante
este trabalho de parceria uma vez que permite, depois, em sala de aula,
proporcionar aos alunos aprender com mais qualidade. E este é, também, sem
dúvida, um dos aspetos que mais distingue o ser professor em 2021 do ser
professor em 1989, ano em que iniciei a minha carreira de professora. Ou seja,
qualquer um dos aspetos que envolva o desenvolvimento da atividade da docência,
pese embora se considere, muitas vezes, pela opinião pública, que a
"arte" de ensinar é
estabelecida apenas no momento em que o professor está perante os alunos
na sala de aula, hoje em dia, nós, os professores, temos mais do que nunca
consciência de que, no processo ensino aprendizagem, os intervenientes são múltiplos.
Existem os alunos, os encarregados de educação (EE), os professores das outras
disciplinas e todos os colegas de departamento. A necessidade desta dinâmica,
chamemos-lhe cooperativa, no nosso agrupamento, já é "institucionalmente"
reconhecida há alguns anos, concretizando-se na existência de tempos
específicos para o desenvolvimento de Trabalho Tolaborativo (TC). Também a
coadjuvação e supervisão colaborativa começam a ser recorrentes. É desta forma,
afinal, que eu e todos os professores do departamento de português nos temos
vindo a comprometer entre pares e com o agrupamento.
Reconhecendo
o mérito destas práticas conjuntas, parece-me que devemos evoluir no sentido de
começar a encontrar espaços e tempos onde
os encarregados de educação comecem a ter uma participação mais ativa
nas aprendizagens dos seus educandos, nossos alunos. Já no último relatório de
autoavaliação referi este aspeto. Não me foi ainda possível criar situações, neste
ano, dentro dos cenários de aprendizagem, onde essa realidade pudesse começar a
ocorrer de forma sistemática, contudo, urge fazê-lo uma vez que dessa maneira a
comunicação entre nós, professores e encarregados de educação, ganhará,
certamente, contornos de maior efetividade pedagógica, passando a ser mais
"fácil", e certamente mais eficaz, para os EE acompanhar todo o
processo de aprendizagem dos alunos, incluindo o processo de avaliação que
muitas vezes, na ótica dos EE, ainda está centrado exclusivamente na
classificação.
No entanto, a aprendizagem é cada vez mais um processo
dinâmico durante o qual importa proporcionar aos alunos um “ambiente de
aprendizagem aberto onde as aprendizagens são explicitadas e identificadas de
modo que os alunos aprendam segundo os seus próprios itinerários de apropriação
dos saberes e do fazer” (Przesmychi, 2000). Ou seja, falo de uma pedagogia sustentada nos processos, onde,
neste ano, e uma vez mais, procurei gerir o currículo com a convicção de que
todos os alunos pudessem realizar progressos nos seus percursos educativos,
estabelecendo para isso pontes com as suas necessidades e características
individuais (Clarke, 2000).
Por isso, desde o início do ano, os objetivos e as
tarefas de aprendizagem foram definidos com clareza, tendo como propósito
avaliar as competências dos alunos, organizando de modo flexível e
diversificado o seu trabalho. Promoveu-se, nesse sentido, a autonomia e a
possibilidade de escolha dos alunos. Vários foram os momentos ao longo do ano
letivo em que os processos foram sendo adaptados aos resultados que os alunos
iam apresentando, procurando tornar as suas aprendizagens mais significativas.
Ao longo deste período de tempo, as metodologias utilizadas promoveram um
ensino mais centrado no aluno e no seu processo de aprendizagem, tendo-se
introduzido alterações na gestão do tempo e do espaço da sala de aula, mesmo em
tempo de pandemia. Iniciaram-se também pequenas alterações a nível da gestão do
modo como os alunos organizam o seu tempo de estudo.
Neste aspeto, foi de crescente relevância a utilização das
plataformas digitais quer durante o tempo de aulas não presenciais quer nas
situações de aprendizagens presenciais, reconhecendo ainda assim que se trata
de um aspeto a continuar a desenvolver porque se mantém da parte de um número
considerável de alunos alguma resistência ao desenvolvimento de trabalho
autónomo com ou sem recurso às ferramentas digitais.
Foram sistematicamente
utilizados materiais diversificados e promovidas práticas adequadas à regulação
do trabalho desenvolvido pelos alunos. E, sem qualquer margem de dúvida, todas
estas circunstâncias foram contribuindo para uma maior motivação dos alunos,
permitindo, inclusive, uma melhor gestão dos conflitos em sala de aula.
Tendo como referência a existência de
múltiplos perfis de aprendizagem, todos os momentos de aprendizagem propostos
permitiram, ao longo do ano, a possibilidade de, em sala de aula, acompanhar
cada um dos alunos de forma a ser possível reformular estratégias no decorrer
do desenvolvimento das tarefas. Tal aconteceu pelo facto do ritmo de trabalho
proposto ir alternando entre o trabalho individual ou pequeno grupo (pares ou
grupos de três elementos) com momentos de apresentação de resultados ou
pequenas exposições à turma que davam, depois, de novo, origem a outro processo
de resolução de exercícios, compreensão, leitura mais aprofundada, produção de
textos, individualmente ou pequeno grupo.
Em suma, parece-me que fica
demonstrado pelo exposto que as linhas orientadoras que pautaram o
desenvolvimento da minha prática pedagógica no decorrer do ano letivo deram
preferência a situações de aprendizagem sustentadas na pedagogia diferenciada,
usando a avaliação formativa, particularmente através de feedback de qualidade,
como forma de dar aos alunos, sempre que possível e viável, a informação necessária para que identificassem
o momento em que estavam na aprendizagem, informando sobre os objetivos já
alcançados e quais os aspetos a melhorar. Promovi, também, a participação no
processo de autoavaliação, disponibilizando inquéritos online para o efeito,
onde procurei que refletissem sobre momentos de aprendizagem concretos a fim de
perceberem o que tinham aprendido e o que deveriam fazer para alcançar o
sucesso. Sublinhe-se que a possibilidade de adaptar as propostas ao perfil dos
alunos foi um princípio continuamente respeitado e com resultados de sucesso.
Casos
houve, ainda assim, onde o sucesso não foi alcançado. Foram situações bastante
ponderadas, tendo em conta o Perfil do
Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória (PASEO) e as Aprendizagens Essenciais
numa perspetiva de ciclo dado envolver alunos do oitavo ano. Eram alunos
que necessitavam de um reforço no que ao
acompanhamento do trabalho e estudo dizia respeito e, por isso, insistiu-se,
como solução, uma vez que não houve resposta às propostas de apoio educativo, na proposta de tutoria para supervisão do
desenvolvimento do trabalho autónomo, particularmente, através das plataformas
digitais. E, apesar de, no 3.º período, terem usufruído desse tipo de apoio
(tutoria), não existiu da parte dos alunos participação efetiva no
desenvolvimento das tarefas de trabalho autónomo propostas pela disciplina de
português. Foi também possível usufruírem, desde o início do 3.º período,
de acompanhamento às quartas-feiras à tarde através da plataforma TEAMS. Nunca
marcaram presença.
Pelo exposto até agora, parece-me que fica claro que a
estratégia proposta nas aulas por mim geridas é presidida pelo princípio da
personalização, sustentado no planeamento centrado no aluno, de acordo com as
suas necessidades, potencialidades, interesses e preferências, tendo como
objetivo uma avaliação para a aprendizagem, com destaque para a vertente
formativa, princípio sustentado pela atual legislação para fundamentação das
propostas de medidas a adotar. Perante o "absentismo" dos alunos face
às propostas, não havia evidências que sustentassem a proposta de medidas seletivas.
Considerou-se que os alunos não foram "penalizados com as avaliações” propostas
(níveis inferiores a três), sendo que as medidas aplicadas (universais,
sustentadas na pedagogia diferenciada) não resultaram eficazes pelo facto dos
alunos se terem recusado a trabalhar e terem revelado, particularmente na parte
final do 3.º período, com incidência nos meses de maio e junho, um crescente
grau de absentismo que não é compatível com o trabalho continuado e orientado e
não permitindo, dessa forma, a recuperação das aprendizagens. Claro que esta
situação a envolver estes alunos irá ser tida em conta no próximo ano e, de
novo, procurarei encontrar soluções que possam responder às necessidades
específicas de cada caso.
Ainda assim e tal como já refleti no último momento
de autoavaliação (avaliação de desempenho) muitos destes casos carecem de um
apoio de caráter social que as escolas portuguesas ainda não têm sistematizado e
que deveríamos começar a ter de forma mais efetiva e continuada.
Neste processo de autoavaliação de desempenho, muitas situações / imagens vivenciadas ao longo do ano, surgem-nos na mente e temos de seriar, escolhendo aquelas que melhor ilustrem a argumentação apresentada, e, neste momento em que descrevo um dos aspetos mais relevantes da prática letiva - o processo de aprendizagem dos alunos e, por inerência, a relação pedagógica estabelecida entre alunos e professora, aspeto que decidi nesta reflexão destacar, optei por registar a referência a um parecer de uma das psicólogas em funções no agrupamento, quando supervisionou algumas aulas das aulas por mim lecionadas, a meu pedido, com o objetivo de perceber se eu estaria a usar a comunicação de forma adequada aos perfis diferenciados dos alunos. Nas palavras desta técnica, no momento em que eu estabeleço a relação pedagógica com os alunos, uso uma linguagem adequada e estimulante à aprendizagem dos alunos, promovendo a pesquisa, o conhecimento, desafiando a aquisição de conhecimentos novos, sem fazer distinção e incluindo de igual forma o aluno em análise. Mais referiu que me considerava assertiva na forma como comunicava com os alunos, estimulando-os a questionar e a buscar conhecimento para além das temáticas curriculares.
A terminar esta parte do
presente relatório, irei dedicar alguma atenção ao processo inerente à promoção
e gestão das atividades / projetos desenvolvidos nos domínios da articulação horizontal
(DAC). Estive envolvida no desenho de seis DAC, duas nas turmas do 8.º ano e
quatro nas turmas do 9.º Ano. Nas turmas do 8.º ano, as propostas foram as
seguintes: "Logotipo para Projeto de leitura “Um livro sempre à mão”
(português e educação visual) e “Feira de Turismo” (espanhol, português,
inglês, geografia e educação visual). Nas turmas do 9.º Ano, estive envolvida
em projetos de DAC que envolveram as seguintes disciplinas além da de
português: educação visual ("Leques literários"); físico-química
("Construção de um glossário"); ciências naturais e expressões
("Porque nos apaixonamos"); TIC e restantes disciplinas do conselho
de turma ("Construção de um portefólio digital"). Darei destaque
aos dois projetos que envolveram a atividade desenvolvida no âmbito do projeto
de leitura do agrupamento "Um livro sempre à mão" e que foram, no 8.º
ano, a "Construção de um logotipo para o projeto de leitura" e no 9.º
ano "Leques literários". Em
relação a esta última referência, nas aulas de português, após o visionamento e
debate sobre o filme “Livros voadores”, uma das etapas do cenário de
aprendizagem que promovia a participação no projeto de leitura do agrupamento,
propôs-se que os alunos redigissem uma frase motivadora para a leitura. Durante
o decorrer da atividade, pelo interesse dos alunos, sugeriu-se que, em casa,
juntos dos encarregados de educação pedissem a colaboração destes para a
construção de outras frases. Não estando esta situação prevista, fiquei muito
satisfeita com o resultado, uma vez que a adesão dos EE à proposta foi
profícua, quase todos os alunos conseguiram convencer os EE ou familiares
próximos a participar. O que de certa forma "alimenta" de forma
favorável a já referida necessidade de sistematizar nos cenários de aprendizagens
a participação direta dos EE nos processos de ensino aprendizagem. As frases
foram publicadas numa ferramenta da web 2.0 (Linoit). Depois, na disciplina de
educação visual, os alunos construíram um objetivo em 3D, o leque literário,
onde escreveram a frase criada. Em relação ao projeto DAC "Construção de
um logotipo para o projeto de leitura", utilizou-se a transversalidade do
projeto para propor a criação de um logotipo feito pelos alunos. Este DAC só
será concluído no próximo ano letivo com o momento final de seleção do logotipo
que será realizado através de um concurso onde se prevê que a comunidade
educativa participe. Todas as atividades de
planificação do projeto foram desenvolvidas em TC presencial, em momentos
informais, na escola, ainda através da troca de emails. De referir que propus
aos colegas uma avalição partilhada através de um processo de codificação que
envolve a distinção de vários níveis de desempenho.
Constato agora, nesta abordagem ao processo de acompanhamento de alunos, que todo o meu trabalho está sustentado na minha experiência e, simultaneamente, na formação que tenho feito, nomeadamente na área da Gestão de conflitos, Diferenciação pedagógica e Avaliação, tendo tido impacto relevante a frequência da Ação de formação do "Projeto MAIA: Para uma Fundamentação e Melhoria das Práticas de Avaliação Pedagógica Projetos de Intervenção nos Domínios do Ensino e da Avaliação" que tinha como projeto final a elaboração de um projeto de intervenção a propor ao agrupamento, e que, no caso do grupo que liderei na formação, tinha como 1.º momento um "Módulo de Ambientação" já decorrido, entretanto, e ainda durante a frequência da formação com o objetivo de sensibilizar os professores do departamento de português para as questões da avaliação pedagógica. Os colegas participaram nas atividade nesse módulo, distribuído por três momentos distintos durante os quais nós, a equipa da formação, fizemos a apresentação dos vários trabalhos feitos. Foi dado a conhecer à formadora esta iniciativa tendo a mesma reagido positivamente pelo seu caráter proativo.
Enquanto coordenadora de
departamento, e pela função de avaliadora interna dos meus colegas, no que
respeita a avaliação de desempenho, apercebi-me da possibilidade de gerir os
relatórios de autoavaliação de forma a, contemplando os aspetos exigidos do
ponto de vista legal, poder, tendo em
conta que a permanência em cada escalão é, sempre, salvo exceções, de mais de
um ano, de forma a destacar em cada reflexão os aspetos mais relevantes do
respetivo ano letivo a que se reporta o Relatório reflexivo. Só assim este
processo, de facto, pode ser útil para a melhoria do nosso desempenho. Tendo-me
dado conta disso, passei a informação aos restantes professores do departamento
para que também eles pudessem fazer uma melhor gestão deste trabalho que nos
permite identificar os aspetos mais positivos, mas, simultaneamente, aqueles
que carecem de melhoria.